577km percorridos
236km para Santiago
No dia em que chegamos à Cruz de Ferro, andámos, literalmente, nas nuvens. O monte da Cruz de Ferro é um dos pontos altos do Caminho Francês de Santiago, e não falamos em termos de altitude: ali cada peregrino deixa uma pedra que carrega consigo desde que saiu de casa. Para muitos peregrinos, é um momento muito especial. Para nós, foi mágico.
Para compreender a exigência desta etapa, é preciso recuar à travessia dos Pirenéus. Num só dia teríamos de subir 350 metros até à Cruz de Ferro e descer outros 350 metros até El Acebo, o nosso destino desta etapa. Uma chuva miudinha cumprimentou-nos à saída de Rabanal. Nada de grave, pois o espírito estava bem animado.
Começar a subir não nos assustou, tínhamo-nos preparado para enfrentar a ascensão do monte Irago de véspera.
Alguns sinais da tardia Primavera na subida ao Monte Irago |
Chegada à “aldeia fantasma” de Foncebadón |
Pouco resta desta povoação que foi outrora um ponto importante de paragem para os peregrinos do Caminho de Santiago. As casas, muros e arrecadações estão em ruínas. Mantêm-se de pé apenas aquelas que foram reabilitadas como restaurante, bar ou albergue para peregrinos. O nevoeiro que envolvia toda a aldeia deu-lhe um ar ainda mais místico. Aquele era o cenário ideal, o locus horrendus perfeito, para qualquer escritor romântico. Nós regressávamos à adolescência e sentíamo-nos como personagens dum livro de mistério.
Para abrilhantar ainda mais a experiência, não podíamos ter escolhido melhor bar para comer um bocadillo e beber um café quente. Um retorno ao passado no crepitar da madeira duma lareira acesa que emanava o cheiro e o calor daquelas casas que faziam parte das nossas memórias de infância, a casa dos avós.
Abandonámos Foncebadón, como tantos outros antes de nós. Era inevitável, Santiago esperava por nós.
A calma e alegria espiritual que nos dominaram nesse dia, atingiram o auge na Cruz de Ferro. Ali, no tecto do Caminho Francês a 1500m, milhares e milhares de pedras vindas dos quatro cantos do mundo encontram o seu destino simbólico.
Cada uma tem um significado especial. Cada uma tem uma carga emocional. Também as nossas pedrinhas ali ficaram, irmanadas num monte feito de sentimentos. Foi um momento muito emotivo e simbólico também para nós, depois de mais de sete anos a caminhar juntos, como as duas metades da laranja que se completam.
Repletos de sentimento positivo, seguimos caminho, na esperança de conhecermos uma lenda do Caminho.
Em Manjarín, Nossa Senhora de Fátima fez-nos uma “visita surpresa” |
Manjarín deve o seu nome no mapa a uma pessoa marcante, Tomás Martínez de Paz, que se apresenta como o último dos templários hospitaleiros. Para uns, Tomás é apenas um homem excêntrico, para outros, um salvador. A sua casa colada à estrada é a única que resta habitada no povoado e não há como não dar com ela. Infelizmente não conhecemos a lenda Tomás de Manjarín, mas compreendemos o espírito de generosidade e partilha. Ninguém sai daquele refúgio sem levar algo consigo, mesmo que não se aperceba de imediato.
A partir de Manjarín foi sempre a descer. E se é a descer, é mais fácil. Errado! Os 7km que separam Manjarín de El Acebo são compostos de tudo: alcatrão, terra batida, caminhos de cabras, pedra solta, fragas e pedregulhos. Em suma, muito exigentes.
Completamente moídos, com os músculos doridos da subida e os joelhos macerados pela descida, chegamos a El Acebo ansiosos pelo descanso. O dia foi preenchido de tudo. Tivemos paz e espaço para reflexão, sentimos a tão desejada tranquilidade. Santiago estava a cada dia mais perto. E alegrámo-nos por aprendermos que a vida é feita de pequenos passos rumo a um grande objetivo.
Etapa Anterior: De Murias a Rabanal del Camino
Etapa Seguinte: De El Acebo a Ponferrada
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Alexandre e Anabela,
Não sei se este terá sido, porventura, o expoente máximo do vosso Caminho, mas foi, sem dúvida a crónica que mais mexeu comigo… pelo significado, pela poesia, pela magia!!!
Beijinho grande.
Clara
Olá Clara! Sim, este foi o momento mais marcante em mais de 800km de emoções fortes. Ainda bem que conseguimos fazer passar a magia! Muito nos alegra teres gostado tanto 🙂
Beijinhos
Compreendo o simbolismo e não me foi totalmente indiferente. Ainda assim, não foi de todo dos momentos mais marcantes. As vivências são tão distintas, num trajecto comum a todos 🙂
Quanto à descida para El Acebo, foi penosa, ainda mais porque chovia :
Não há de facto Caminhos iguais! Também tivemos outros grandes momento no Caminho, como seja a travessia dos Pirinéus logo no arranque do Caminho, o Alto do Perdão, o Mostelares na Meseta (talvez mesmo toda a Meseta, pois foi por lá que estivemos muito perto de abandonar o Caminho) e o Cebreiro (entre outros). Mas nenhum deles superou a carga emotiva da Cruz de Ferro!
Ola Anabela, belo relato sem dúvida, fiquei curiosa com a descrição que fazem da casa habitada em Manjarin, vive lá um senhor hospitaleiro durante todo o ano? Também achei curioso o comentário de uma outra pessoa onde é invocada a diferente perceção que temos dos sítios por onde passamos e a forma como nos tocam mais ou menos. Realmente é como voçes dizem "não há caminhos iguais", eu acrescentaria que todos os caminhos nos podem impressionar de forma diferente…
Abraço Isabel
Olá Isabel! Concordamos com o teu acrescento. Todos os Caminhos são únicos mesmo que percorridos diariamente. Se amanhã voltarmos a percorrer este mesmo Caminho acreditamos que as emoções e os ensinamentos serão outros. E sim, o Tomás passa todo o ano em Manjarin, mesmo no Inverno, quando o monte Irago está coberto de neve. Nessas alturas tem salvado muitas vidas, pois não existe mais nenhum abrigo nas redondezas.
Abraços nossos